Paixão por boneca realista custa caro e encanta de crianças a adultos em MS: 'Clientes batem o olho e gostam'


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Na lotérica, um cliente aguarda na fila e observa o momento em que uma criança brinca com uma bebê. Antes de sair, ele identifica a mãe da menina e diz: Tão bonito estes momentos, tire fotos e filme as irmãs brincando. Até hoje ele nem imaginava que se tratava de uma reborn - termo usado para bonecas realistas. Já na saída, outro homem se assusta e diz: Nossa, pensei que fosse de verdade! Em Campo Grande e qualquer canto do mundo, esta é situação recorrente de quem carrega uma boneca como esta no colo.

E a paixão pelas bonecas não se estende somente às crianças, mas, também a mulheres adultas. A artista plástica Naila Franco Cândia, de 72 anos, conta que sempre gostou de trabalhos manuais, o que a levou a conhecer este tipo de bonecas. Ela contabiliza ao todo 200 bonecas vendidas em 9 anos de produção, com preços que variam de R$ 700 a R$ 1,3 mil.

"Eu fiz cursos no Rio de Janeiro e também em São Paulo. Após dois meses, comecei a oferecer em Campo Grande. Meus clientes não são somente crianças, mas também adultas que compram até para decoração. Há poucos dias, meu genro inclusive comprou para a mãe dele. Desde que comecei, também já enviei diversas encomendas para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais", contou ao G1 Naila.

Trabalho minucioso
Conforme Naila, o preço elevado da boneca é devido ao trabalho minucioso na confecção de cada unidade. "A boneca vai sete vezes ao forno e utilizamos material importado, desde os olhos ao cabelo. O corpo também precisa ser feito de acordo com o molde e pode ser de pano ou silicone. Precisamos pensar em detalhes na hora da pintura, como as dobrinhas no joelho e pescoço, por exemplo. O acabamento final, com a escolha das roupinhas e acessórios, também é muito importante", ressaltou.


Tantos detalhes, ainda conforme a artista plástica, que separou um quarto monitorado da casa, somente para armazenar as bonecas, fazem os clientes "baterem o olho" e não mais mudarem de ideia. "É impressionante. Vou abrindo as caixas, mostrando uma a uma e a criança escolhe e nem adianta mais mostrar as outras. Mesmo com alguns problemas de saúde, não deixo de fazer e inclusive estou procurando entidades para doações. É uma excelente maneira de prolongar a infância, as crianças se apaixonam de cara", explicou.

A aposentada Tânia Maria, de 59 anos, presenteou recentemente a afilhada . "Ela já tinha uma coleção de bonecas, mas, esta foi diferente. Tudo o que ela pede, sempre me esforço para dar, pois ela conta sempre histórias diferentes e assim foi me convencendo a dar uma família inteira. No caso da reborn, ela me disse que queria ser mãe e eu me convenci que seria a vovô do coração. Agora ela anda pra todo lado e muita gente assusta, achando que é um bebê de verdade", comentou.


A também artista plástica, Ana Picollini do Prado Gouveia, de 44 anos, diz que é autodidata na confecção de bonecas e se tornou "cegonha" há 5 anos, após assistir uma reportagem na televisão. No caso de clientes, ela brinca que o público varia de 3 a 80 anos.

"No começo vi aquilo e achei muito estranho, fazer bonecas igual para bebês para crianças e ainda ser chamada de cegonha. Depois, me interessei mais pelo assunto e, como tenho muita facilidade para pintura, deu certo. Já vendi centenas de bonecas, perdi a conta para falar a verdade. São trabalhos de dois artistas, na verdade. Tem o que faz a escultura e o outro que a pinta", ressaltou Ana.

No caso dos preços, ela fala que o mínimo é de R$ 1 mil. "Já vendi bonecas, como a réplica da filha do príncipe William e Kate Middleton por R$ 3 mil. Os preços são muito variados, existem agora bonecas de silicone sólido, com preços entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, só que com estas eu não trabalho", explicou a artista.


Quando entram em contato ou vão pessoalmente na loja, Ana conta que as crianças se apaixonam rapidamente. Já os adultos pedem uma boneca semelhante ao filho ou então dizem que será um companhia. "São muito detalhes, a pessoa escolhe a cor do cabelo, os olhos, é um processo demorado. E é também muito prazeroso ajudar. O último presente nosso foi para uma jovem de 23 anos, com microcefalia", argumentou.

No último Dia das Crianças, Jaqueline Ricelli Bispo Mesa recebeu a boneca. "Desde quando surgiu a boneca, ela se apaixonou e só vivia falando nisto. Como era muito caro, não podíamos comprar. No celular, ela acompanhava e curtia todas as fotos que aparecia. Quando soube que ia ganhar, ficou eufórica, feliz, é a paixão da vida dela. Todos os dias, coloca pra dormir e até levanta de madrugada para olhar, como se fosse um bebê de verdade", finalizou a mãe Eliane Maria Silva Bispo, de 53 anos.


Fonte: https://g1.globo.com/